quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Feitiço



Eu,
Me sinto,
Me vejo,
Como a possessiva atraca,
Diante da palmeira, gigantesca e passiva
Assim me quero perto de ti,
Tão perto, tão perto
Sufoco
Uma pela outra
Anos, anos
Uma nunca sem a outra
Chega-se ingênua
De manso, de leve
 Ataca, afoga
Atraca.
Eu,
Também palmeira
Seduzida, sufocada
Passiva intencionalmente
Incondicional
Vivendo para, e por ti,
Deixando-me tomar conta,
Nunca mais, sem ti.
Eu, palmeira
Eu, atraca
Eu e tu,
Feitiço.


fotos: Vanusa Babaçu
Estrada do Arroz (Impertriz/MA) suas paisagens
Texto: Vanusa Babaçu
Com título sugerido por um anônimo, após ler o poema
"Abismo" dedicado a "CAIRO MORAIS"




terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Amarelo-manga

Texto: 
Vanusa Babaçu


O tempo contigo 
rouba-me o sono,
num labirinto
de desejos 

e imaginações férteis.
Tudo se mistura 

e confunde-me.
deixando-me assim, 

ao léo. 
PERDIDA...
Para somente me encontrar
Se for para teu encontro.
Como em raio X, 

fotografar teu âmago
tua essência, 

despida e despudorada.
Nua, degustada.
Ainda com as cores

de vinhos noturnos.
Nos lençois 
com cheiro do ontem.
Caminho para ti.
também assim, 

me sinto teu caminho.
experimentando sabores,
improváveis talvez.
Num abrir e fechar de portas
das curvas sinuosas 

de nossa apressada
Existência vã.


sábado, 5 de dezembro de 2009

Lado "B"

O meu tempo hoje
não cabe ninguém
quero dizer não
até pra teus beijos.

Não quero falar,
nem te ouvir ,

nem te conhecer,
hoje meu tempo
cabe só a mim.

O meu tempo hoje

convém, que eu sozinha
não me conte nada
não esbarre em mim.

O meu tempo hoje

tempo de chuva,
tempo de sol,

tempo descontínuo

tempo de silenciar
tempo necessario

Tempo meu.
Tempo só meu.


Vanusa Babaçu
do outro lado 



Rumo

Tu...


rastros
pisadas
indícios
Para hoje
não deixou véstigios


E eu, 

feita de lonjuras 
no colorido
carmim
de meus cabelos.


texto: Vanusa Babaçu


Soma

A velha rede
tecida na palha de tucum
esticada na grande sala
acolhe
quatro calcanhares
dois corpos
frenesi
um desejo
prazer seriado
inacabado.


outra vez
amanhã
A velha rede
tecida na palha de tucum
esticada na grande sala
acolhe
quatro calcanhares
dois corpos
frenesi
um desejo
prazer seriado
inacabado.

cumplíce

inerte

na grande sala


Espera
por outro amanhã
de ocupação.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Rio-relógio



R i o 
R e l ó g i o
t e m p o

 


cLiK: Rubão


Para quem lava suas angustias...
Para quem vive inesquecivéis momentos...
Para quem envelheceu pelo tempo...
Para quem passou de passagem.
Clik: Rafael e Evando 
 

Tempo  estrada!
Tempo ponte!
Tempo vida!
Tempo passado presente!
O tempo e o rio...
O rio e o tempo
correm.... 

nos pés das crianças!
Na saudade dos velhos!
Na esperança de alguns!


O tempo e o rio
                                                           
        Correm, correm, correm.

rio - relógio.




texto: Vanusa Babaçu
Click: (foto 01) Rubão
Click: (foto 02) Rafalel Almeida e Evando
Ambas as fotos feitas no Rio Tocantins
Em localidades e tempos diferentes

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Beradeiros

A noite com temperatura amema

A lua brincante como um menino vadio

entre uma nuvem e outra nuvem.

Te busquei, onde não poderia  encontrar

O tempo desembestado, madrugou

E aquele cavalo-égua, desandou

E a lua, lá! Solitaria é verdade.

Mas a rir de nós!

Os ocupantes noturnos

da beira gramada do grande rio.

Se foram.

Uma noite, há sim de ser feita de sono.

Mesmo que para sonhar em estar lá,

No verde gramado a amar a Lua!

E teu colo é travesseiro, para minha cabeça

Ali mesmo, no verde gramado

refletindo, nosso todo no espelho d'agua

do magestoso rio.

Um Abraço... uma entrega...


Se pudesse dizer em palavras


O que senti ao te sentir...


Se possível fosse e eu encontrasse


A maneira de te explicar,

Certamente entenderias

Que ainda na primeira vez
 
Que teus olhos olharam os meus

Bem ao fundo... e lá ficaram


Não mais pude esquecer,


Daí por diante eu só via teus olhos.


E que fazer agora?

Se tu me fez despertar para o amor,

Se tua voz tocou meu coração como música,


Enquanto em teu abraço,

Encontrei o mais seguro dos abrigos.


Ah meu querido...teu abraço...


Ah...eu nos teus braços...

Foi uma entrega plena..

Foi pro nunca mais esquecer...





Por:  Debora Sampaio
Imperatriz - Dezembrando

TODAS AS VIDAS - Cora Coralina


Vive dentro de mim
uma cabocla velha
de mau-olhado,
acocorada ao pé
do borralho,
olhando pra o fogo.
Benze quebranto.
Bota feitiço
Ogum. Orixá.
Macumba, terreiro.
Ogã, pai-de-santo…
Vive dentro de mim
a lavadeira do Rio Vermelho.
Seu cheiro gostoso
d’água e sabão.
Rodilha de pano.
Trouxa de roupa,
pedra de anil.
Sua coroa verde de são-caetano.
Vive dentro de mim
a mulher cozinheira.
Pimenta e cebola.
Quitute bem feito.
Panela de barro.
Taipa de lenha.
Cozinha antiga
toda pretinha.
Bem cacheada de picumã.
Pedra pontuda.
Cumbuco de coco.
Pisando alho-sal.
Vive dentro de mim
a mulher do povo.
Bem proletária.
Bem linguaruda,
desabusada, sem preconceitos,
de casca-grossa,
de chinelinha,
e filharada.
Vive dentro de mim
a mulher roceira.
- Enxerto de terra,
meio casmurra.
Trabalhadeira.
Madrugadeira.
Analfabeta.
De pé no chão.
Bem parideira.
Bem criadeira.
Seus doze filhos,
Seus vinte netos.
Vive dentro de mim
a mulher da vida.
Minha irmãzinha…
tão desprezada,
tão murmurada…
Fingindo alegre seu triste fado.
Todas as vidas dentro de mim:
Na minha vida -
a vida mera das obscuras.


Do livro:
Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais
global editora
4ª edição, 1983

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Débora

Entre ti e mim,

Qual a ponte?
Qual a estrada?
Qual a certeza?

Entre ti e mim
Distância...


de alma,
de tempo...
de tempo espaço
.

Vermelho






Meu patuá,
de couro cru
Moldado e costurada a mão
 Pelo velho da estrada do arroz
Carregado transversalmente,
 sobre meu peito.

Seguramente ali te coloquei.
E cavalgamos no galope
De um cavalo, livre de juízos.

Na estrada da infinitude da vida
Sob o céu negro estrelado

Estendemos-nos horizontalmente,
sossegados
Na esteira, trançada palha a palha.
Com a força e sabedoria
contida nas mãos
Do velho sábio
da estrada do arroz.
E o tempo cansou de andar.

E agora...
Onde estão seus olhos?




texto: Vanusa Babaçu
Retrato: Cairo Morais (Aragoiânia - GO)