quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Antropofágico - Vanusa Babaçu




O Abaporu, 1928, Tarsila do Amaral. 
Óleo sobre tela, 85 X 73. 
Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires, Argentina

Na imaginação de Oswald de Andrade,  
ele via naquela  figura  desforme,  um antropófago.
Munida de um dicionário de tupi-guarani,
Tarsila logo batizou sua obra de Abaporu,
que significa homem que se alimenta decarne humana, no idioma indígena. 
Oswald sentiu-se motivado para escrever o "Manifesto Antropofágico"

Antropofágico - Vanusa Babaçu

Permiti-me apreciar com lentes lupas
o olhar que seguia todos os meus atos
sem sensura e sem reservas de pudor.
Olhar negro e belo,
desconcertante e firme,
apaziguado e contínuo.
Dessemelhante da energia do toque.
Que se fez misto de leveza e imprudência.
Toque e olhar.
Olhar e toque.
que se ocuparam com meu aval,
de mapear desapressadamente
as cavidades de meu corpo.
Quase falante.
Em noite enluarada de agosto
embalada à cantigas de Lena
Regados a goles de bebidas 
gélidas e redondas
incitando despudoradamente
a amalgamação de dois corpos
... afins.
Entregues a atos frívolos,
quase antropofágicos.
A um momento místico,
poético, inesquecível e saudoso.

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