quarta-feira, 28 de maio de 2014
PAPARUTO
Delicioso! Alimentar no alvorecer, todos juntos, a aldeia e convidados. Ele é feito coletivamente, com participação dos homens e mulheres, utilizando massa de mandioca exprimida no tapiti, (espécie de peneira vertical, feita artesanalmente de talos de buriti comum em toda morada indígena) carne doméstica e da fauna, as folhas de bananeira e embira nativa para embalar o “paparuto” (parecido com pizza), pedra e lenha para aquecer e cozinhar, abafado cuidadosamente sob a terra. Chega até mais de metro quadrado de tamanho, Vale a pena conhecer essa culinária e, o que está por trás de tudo isso, seu vinculo cultural
Fotografia: Vanusa Babaçu
Descrição: Cleso Moraes
quinta-feira, 22 de maio de 2014
Vivência em terra Krahõ
A vegetação rasteira, uma cor esverdeada
unívoca. Que é aquebrantada pelas incontáveis flores de tamanhos e cores
díspares que enfeitam as estreitas veredas do percurso. Naquele cenário, os
riachos com nomes que desconheço correm como veias que auxiliam no pulsar da
terra. Assim, com os olhos cravados em tudo que passa de forma rápida e
contínua aos meus olhos, imprimo minha entrada por esse caminho novo. Dentro de
um animal metálico, o carro de cor pardo-cinza, conduzido por meu companheiro
de trabalho Zezinho Martins. O velho carro é desprovido de ar condicionado e de
som. Todavia, ronca ininterruptamente o motor, interferindo no silêncio daquela
inesquecível paisagem do cerrado brasileiro.
Todo
esse vislumbrar, contribui para alcançarmos o povo que nos espera: o povo
Krahô, grandes guardiões do cerrado. Além de coletores e caçadores, trata-se de
um povo que sabe celebrar. O calendário festivo se encorpa com o fim das
chuvas. Cada aldeia tem a sua motivação para grandes festas. Congratulam-se
entre eles, e também com os que ali chegam. Valorizam os elementos da natureza
e respeitam e preservam o meio ambiente.
O povo
Krahô é provido de uma beleza peculiar, arrematada por um colorido de vermelho
alaranjado do urucum e a negritude do jenipapo que cobrem seus corpos em
eventos festivos. Estampa nos seus rostos livre de pelos, uma tranquilidade
difícil de entender facilmente.
O grande encontro é na compacta Lagoinha, uma
aldeia makraré (se autodenominam: filhos de ema) está cravada em uma parte
elevada da imensa chapada no município de Itacajá- TO. A geografia contemplou o
espaço com um mirante. Uma elevação rochosa escalada diariamente pelas crianças
oferece uma vista de toda a área circular da comunidade. O pátio pode ser vislumbrado dali também. É
nessa esplanada descampada onde acontece toda a vida política e social da
aldeia. Nas noites festivas, contempla-se o clarão do luar, o convidar do
maracá e os cantos em língua nativa, acompanhado pelos os passos rítmicos e
fortes na terra nua.
Impossível não acontecer um processo de
intimidade e harmonia entre o “ser” e natureza em um espaço tão místico. É
desse modo que, Nesses dias de maio, os 14 Caciques das aldeias Makrare,
reúnem-se para um importante Iaminkwin,
correm a tora em homenagem a alguém que já não esta entre eles de presença
física, que já retornou a terra. Como os rios gélidos que rasgam a o cerrado, o
percurso é inevitável e natural. A festa encerra o ciclo de um luto, e a vida
dos que ficam segue seu rumo.
Aproveitando desse intermédio, além de
vivenciar os dias de festa, numa das tardes de discussão de assuntos inerentes
às necessidades daquele povo, minha presença entre eles é também com o objetivo
de debater, sobre o PBA – Projeto Básico Ambiental Timbira. Nesse projeto,
exerço a função de assessora técnica. Cabendo assim a necessidade de estar
sempre com eles.
A comunidade Aldeinha foi abarcada no projeto
de roça coletiva idealizada e executada pela Associação INTE e Cate no ano de
2013. Além da prestação de contas, novos projetos para o ano de 2014 também
esteve em pauta. O encontro foi permeado de longas conversas, de
esclarecimentos de duvidas, Além dos caciques, estiveram presentes e contribuíram
nesse processo: Fernando Schiavini e
Cleso Fernandes (FUNAI), Gedem Jorge
(assessor do projeto), Marcelo Hajopir Kraho
( Associação Inxe - catti), José Martins e eu, (Associação Wyty Cate).
Cabe sublinhar, de tudo que aqueles dias me
proporcionaram, foi imprescindível aprender sobre partilha, desde o banho de
rio, os círculos para as conversas, bem como o alimento. Do zelo com a nossa
casa, a terra. Entre eles esse cuidado, não está sujeito a nenhum estatuto,
esse saber cuidar, está enraizado no fazer diário de cada homem e mulher que
ali vivem. Possível contemplar, na paciência pedagógica do ensinar, na forma
prazerosa e responsável na transmissão desses conhecimentos para as novas
gerações que vão povoando essa parte do belíssimo cerrado preservado.
O que me faz refletir, precisamos mesmo nos
escolarizar na principal disciplina que a vida nos pede: Sermos humanos. E
isso, não é assim tão fácil. No entanto o povo Krahô, nos apresenta lições
incisivas. Sonho que um dia, muitos de nós possamos experimentar sem moderação
o viver daquele povo.
Aquele
por do sol, que inspirou meu nome: Amkrokwj (o por do sol
ao se encontrar com a mulher, nome que recebi de Tereza/Aldeinha, devo voltar
para o batismo) Aquela lua cheia e iluminada, aquele pátio, aquele
silencio absoluto, aquele rio, aquela estrada, aquele verde fazem parte de uma
memória recente que me fez um grande bem.
É com
essa motivação que já quero ou preciso voltar a ver e viver tempos com eles. Andemos. Amém.
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