segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Rascunhos e evidências


 Segunda-feira, Metade da manhã, sob o calor desse setembro vermelho. Vou de encontro à teu surpreendente olhar, que se fez meu espelho. Examinei pela tua lente verdade a gravidade de minha dor-saudade e percebi que se fazia minúscula. De forma minimalista,sem nada mais temer, olhei vagarosamente para ferida que eu temia não ver sarada e compreendi que se elevara ao contíguo das cicatrizes que transportarei, levemente pelo minha carcaça marcada, machucada e livre. Que ousadamente prepara-se para eventuais novos acidentes de percurso. Risco que se corre, ao escolher amar.Pago o preço e sigo...

Cidade Portal, Primavera quente,de 2010
VanusaBabaçu

Cacilda

Colo de Olga - Vanusa Babaçu - Sul do Maranhão
 ­Que o amor
Guie meus olhos
Pelo escuro do quarto

E que meu corpo,
Colado ao dela,
Promova o farto exalar
Do perfume que modela

Além da carne,
A medula da alma,
Além da alma,
A essência do gozo
E além do gozo,
O sentido da vida.


Presente de Jamil Estrela

sábado, 25 de setembro de 2010

Maios de Elieusa

Involuntários desejos...
Fugiram as regras mensais
Quadris visivelmente aumentados
Cadê tua faceira cintura?
Vestiu-se de um novo tempo!
Roupas largas azuis, amarelas...
Tempo de abrigar e carregar vida
Criar e recriar vida nova
Imagem semelhança vossa
Amor inexplicavelmente aumentado
Tu agora,
Outra vez, se faz barriga.
E coração de mãe.
Sem pressa
Contarás as fases da lua
E logo o tempo MAIO chegará.
E conhecerás mais uma
ou mais um
dono do teu mundo
AMAR.




Para minha comadre Elieusa, mãe antes e depois de todas as coisas.


terça-feira, 21 de setembro de 2010

Acordei o mais cedo que pude. Lembrete na porta da geladeira: lavar as calcinhas. A segunda viagem do dia será logo após a chegada do avião das duas da tarde visto que, esse trás duas criaturas que farão parte do coletivo que estará no sul do MA, para mais uma atividade. (em coletivo)
É verdade que eu gosto dessa vida de mochila mas, nem todo dia tenho vontade de pegar a estrada. Mesmo agora aqui fazendo essas rezingas, a mochila preta, surrada e com tantos pequenos repartimentos já está pronta. As calcinha, hum ainda vão secar sob o sol escaldante de setembro. Não podem deixar de entrar na pequena bagagem para três dias de ausência de corpo.
Dessa vez, me recusei a dirigir, é longe e a última viagem no mesmo trajeto desviei de uma carreta, sai fora da estrada. Nada demais  ocorreu comigo (usava, como uma boa menina o recomendado cinto de segurança). Agora o pobre carro, sofreu bastante e nos custou um bom bocado de reais para deixa-lo inteiro outra vez.


Seu Adão (motora que conhece como a palma de sua mão os 600km que percorrememos) nos guiará e talvez,quem sabe eu tire um bom cochilo na velha estrada com paisagem do belíssimo cerrado maranhense. Iremos até Loreto.
No preparo da mochila francesa (presente), lugar garantido para minha companheira de todas as horas, a maquina fotográfica, uma bem velhinha, com visor minúsculo da marca MINOLTA, (também presente de FANY). as fotos ficam ótimas então, entrou na bagagem. Carregador de pilha, creme dental, suvacol, absorventes diários, canetas, papel higiênico para as conhecidas e necessárias paradinhas na estrada....lápis, borraozinho feito por Alexandre, aqueles pequenos que cabem em qualquer espaço. O telefone sem carregador...
Um livro, que nunca dá tempo de ler, mas quando eu nao levo o tempo aparece e me estresso de arrependimento, então virou bagagem imprescendível, levo, levo e pronto. Dessa vez ainda sou carona no banco de trás, atrapalhando um pouco minha visão para as fotos.


O que não é palpável levo em quantidade superior ao peso de meu corpo, saudades dos que ficam, mesmo que por tempo pouco, no entanto com a frequência das pequenas separações, conta muito tempo de horas corridas....
Mas tenho que ir,
To indo....
e para os que amo...
Abraços de palmeira

sábado, 18 de setembro de 2010

Vivi

Foto: VanusaBabaçu
foto: CairoMorais
foto: CairoMorais

entreaberto
entreolhos
entrelaços
entrearte...
entrepassos
entreeles 
entreelas
entrenós
Entreatos,
entrelinhas
entrepernas
entredentes
entreorgãos
entremãos
entretantos
entreSexo!


Entre tudo, entre todos
com amor para

VivianyAssunção


quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Entre-saias Vanusa Babaçu

 Pintura Krikati Foto: Artur Rytan Krikati



Entre meus lábios e meu umbigo,
o caminhar-comer de tua língua felina.
Minhas mãos se fazem cegas,
tateiam tuas costas largas.
 Elaboradas minuciosamente
por músculos enrijecidos
protegidos por pele seda
num colorido jambo.
exalando cheiro, de mato manjericão.
  Debaixo de minhas saias largas,
fogueira!
Alimentada por tua lenha em rispe.
minhas orelhas de carregar brincos-presentes,
impregnadas de tua música-sussuro
me faz ouvir o cantar do gozo.
Meus olhos desvendados avaliam 
o sorriso de quem voltará amanhã.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Saladas, segredos e anonimato nu - Vanusa Babaçu

"Como tu diz tão bem tudo isso. Tu fala enrustida num discrepado jeito nordestino, de nossa extravagância em matéria de cultura popular, enfim, de nossas vidas multifacetadas e esculhambadas pelo soar das horas boas e ruins refletidas em sobressaltos de batalhas intermináveis pela vida todos os dias a fio, ou melhor dizendo, pela sobrevivência tão somente.

Tinha para mim que não era tão grande assim falar de uma CABAÇA.

Por seu turno, não é de se estranhar tão belas grafias brancas na carretilha de uma BABAÇUEIRA, na comburência da mais pura literatura vivida, num invólucro de vida real desenhada!"


Esse, post trata-se somente de um comentário. Mas, gostei tanto, aliás só não é uma resenha crítica, por acrescentar tantos elementos, agora visíveis a meu pequeno texto poema, que descrevo meu amor, minha relação de vida com "Maria José" Zezezinho Cabaça.

Assinado como "ANÔNIMO"  Mas, quando?  Trata-se de Júnior Mendes. Meu amigo  que partilha saladas e peixes nas quarta-feiras de almoços coletivos em minha casa de sala sem piso e paredes sem pinturas mas, adornadas por obras singulares de Cairo Morais.  Sem  esquecer de mencionar aqui os nossos sete "segredos" (risos).
Moderar os comentários é legal pra mim, por saber que vou ler em primeira mão. Todavia, aceito os anônimos com qualquer teor. No entanto, algumas criaturas estão nuas para mim, e reconheço de imediato quem ali deixou, um recado. E logo Júnior, que eu conheço em tantos aspectos, sei ler sua mão e sua mente, que já dividi até a minha rede paraibana? Passaria como um desconhecido, um ser indentificável?



Eis o texto:

Tu andas por aí...
Nste mundao de Deus!
Carregando em tua cintura uma cabaça d'agua!
Que amarra com imbiras de amarrar côfos.
Quando tu se quebra cabaça, transforma-se em cuia!
Enfeita os cantos das salas
Tu te enche de ceras de vela!
Cabaça, cabaça.....
Tu carrega agua que passarim não bebe,
nos deixando tropêga dos sabores teus!!
Cabaça....tu és pote!!!!
Amo como ama o amor. Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar. 
Que queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo?


Fernando Pessoa

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Antropofágico - Vanusa Babaçu




O Abaporu, 1928, Tarsila do Amaral. 
Óleo sobre tela, 85 X 73. 
Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires, Argentina

Na imaginação de Oswald de Andrade,  
ele via naquela  figura  desforme,  um antropófago.
Munida de um dicionário de tupi-guarani,
Tarsila logo batizou sua obra de Abaporu,
que significa homem que se alimenta decarne humana, no idioma indígena. 
Oswald sentiu-se motivado para escrever o "Manifesto Antropofágico"

Antropofágico - Vanusa Babaçu

Permiti-me apreciar com lentes lupas
o olhar que seguia todos os meus atos
sem sensura e sem reservas de pudor.
Olhar negro e belo,
desconcertante e firme,
apaziguado e contínuo.
Dessemelhante da energia do toque.
Que se fez misto de leveza e imprudência.
Toque e olhar.
Olhar e toque.
que se ocuparam com meu aval,
de mapear desapressadamente
as cavidades de meu corpo.
Quase falante.
Em noite enluarada de agosto
embalada à cantigas de Lena
Regados a goles de bebidas 
gélidas e redondas
incitando despudoradamente
a amalgamação de dois corpos
... afins.
Entregues a atos frívolos,
quase antropofágicos.
A um momento místico,
poético, inesquecível e saudoso.