quarta-feira, 14 de julho de 2010

Paredes de adobo - Vanusa Babaçu


Além de muitos olhares ali, naquele quarto de paredes de adobo alisado por tuas mãos, me vi clandestina de meus sentimentos. A rede hoje só aconchegava um corpo, o meu. Tu não estavas lá como de costume. No entanto, o cheiro de camponês dono de mãos calejadas permanecia no quarto simples que constituiu teu pequeno universo particular (um dia, nosso).
Teus vestígios, perceptíveis fácies de serem encontrados a contar pelas roupas que por ti foram usadas, o frasco seco de perfume nobre que te presenteei e que usaste até a última gota, sendo que estas já não mais foram pra que exalassem do teu corpo para mim.
Ai, como foi de horas longas feita essa noite que caprichosamente se desenhou em negritude e lua fininha com as suas incontáveis estrelas, dessa forma fez-se ímpar para registrar-se em minha memória . Agora já sou ciente de teu paradeiro, pensei tanto que não me interessava por essa informação. Porém, ela foi preponderante para o meu mote de culpa.
As novas fotografias, registram teu "ser-propiedade" de alguém bem a teu gosto. Fizeste os mesmos caminhos percorridos por nós em tempos pretéritos, em nova companhia que exibiu orgulhosamente como um troféu. E assim também foi comigo (como eu fui cúmplice desse gesto teu).
E no que eu acreditava? Que estaria sempre, sempre, inerte ao tempo? O tempo correu te levou e te presenteou com novos olhares, novas emoções e agora eu estou cá, com as lembranças abarrotadas de tempos de teu "abraço" ora brisa, ora brasa. Não mais, meus. E meus dias de clandestinidade já não se faz mais necessários. Preciso somente avisar para o meu coração, falta-me somente coragem de expor tal verdade, nesse caso especificamente, a verdade dói. Mas se faz inevitável.

2 comentários:

Brasil Desnudo disse...

Olá Vanusa, bom dia!!
Reflexão de perda, ou lamentação do que não se tem mais...
O Amor nos leva para tais caminhos, mas também, nos mostra o quanto somos importantes...
Causa dor, mas também nos trouxe felicidades...
Nos deprime com a perda, mas também cria um alerta... Você está viva, siga em frante!
As causas não importa, mas o esinamento sim, nos deixa mais atentos e seletivos as nossas novas escolhas...

Um lindo dia pra ti Vanusa

MARCIO RJ

Vanusa Babaçu disse...

É bem verdade. A lamentação não é só da perda mas, da pouca importância que podemos dar aos nossos sentimentos em relação a outra pessoa. Isso de deixar a coisa andar de qualquer jeito e só perceber como era bom, como era divertido, como era uma parte que completava. E agora? O tempo foi o senhor sarou a ferida que deixaste no outro, que agora curado segue e tu agora será só lembranças. E do que adianta ver que era feliz e não sabia. Essa falta de cuidado, de zelo, de amor pelo amor do outro nos faz pessoas mesquinhas. Mas sei que abri caminhos e o outro segue amado e amando. Espero ter aprendido um pouco mais sobre saber AMAR.